Realizou-se na Guarda, no dia 18 de Junho, um encontro no âmbito da campanha Portugal a Produzir,

subordinado às questões da Cultura. Este encontro, realizado no Paço da Cultura da Guarda sob o lema

“Sem luz não há cor”, teve início com um debate no qual participaram os camaradas Filipe Diniz, arquitecto

 e membro da Comissão Nacional do PCP para as questões da Cultura, João Oliveira, deputado na

Assembleia da República e Ilda Figueiredo, deputada no Parlamento Europeu. No debate participaram

também a artista plástica Maria Lino e o programador cultural Américo Rodrigues, director do Teatro

Municipal da Guarda. O debate foi moderado pelo músico Carlos Canhoto, militante na Organização Regional da Guarda.

 

Este debate constituiu um importante momento de reflexão em torno das questões da Cultura

enquanto pilar de uma democracia avançada e enquanto factor de desenvolvimento necessariamente

 ligado às questões da produção. Na sua intervenção, Filipe Diniz referiu aspectos fundamentais da

 concepção de cultura que os comunistas portugueses defendem, diametralmente oposta à que

vêm praticando os partidos da política de direita e àquela que o novo Secretário de Estado da Cultura

já designou como a “libertação” da cultura do peso do Estado. Américo Rodrigues referiu a necessidade

 de uma efectiva democratização cultural e o papel do Estado e das autarquias nesse processo,

considerando que não tem havido uma verdadeira política cultural por parte do poder central.

O deputado João Oliveira lembrou os traços fundamentais da nossa concepção alargada de cultura,

tal como definidos na resolução política do Encontro Nacional do PCP para as Questões da Cultura,

realizado em 2007. Defendeu o papel insubstituível do Estado no apoio à criação e produção

culturais e alertou para o caminho de mercantilização da Cultura que o grande capital e os

governos a seu serviço têm vindo a seguir. Por seu lado, Ilda Figueiredo sublinhou a ligação

da criação cultural à produção de bens materiais, ilustrando esta ligação forte entre cultura e

produção com o exemplo da perda de exclusividade de produção de vinho do Porto na Região

Demarcada do Douro, a qual, para além de significar o abandono progressivo da agricultura

na região do Alto Douro, representa também o fim de toda uma cultura cujas raízes têm já

mais de trezentos anos. Ilda Figueiredo lembrou ainda os efeitos da exploração e degradação

 da condições de vida dos trabalhadores na criação e fruição cultural, nomeadamente com o

alargamento dos horários de trabalho. Por fim, a eurodeputada comunista referiu as imensas

potencialidades do distrito da Guarda no campo da Cultura, quer através do rico

património histórico e da sua investigação (de que é exemplo o Parque Arqueológico do Vale do Côa),

quer através do turismo cultural, quer através do trabalho dos artistas de diversas áreas que ali se

têm vindo a instalar e a criar.
O debate foi ainda enriquecido com diversas intervenções do público, no qual se contavam

profissionais de diversas áreas da cultura mas também muitos camaradas e amigos que,

não estando profissionalmente ligados à área, ali se deslocaram e participaram, conscientes

do papel importante da Cultura na nossa concepção de  democracia avançada para o Séc. XXI.
Depois do debate houve ainda lugar, no claustro do Paço da Cultura, para uma exposição

de produtos agrícolas regionais e de artesanato e para uma ateliê de criação plástica ao vivo,

orientado por Maria Lino, no qual crianças e adultos (nomeadamente alguns produtores agrícolas

que participaram na iniciativa) foram convidados a participar com a representação gráfica  da sua

realidade e do seu trabalho.
O encontro terminou com um concerto que contou, na sua primeira parte, com o cantor César Prata

 e as suas “Canções de Cordel” e, na segunda parte, com o Síntese – Grupo de Música Contemporânea

que interpretou uma obra do compositor italiano Domenico Ricci na qual o público presente teve,

também, aqui, ocasião de participar activamente.
Durante o encontro esteve patente a exposição com que o Partido assinalou o centenário do compositor

Fernando Lopes-Graça, comunista e eminente figura da Cultura portuguesa e da resistência antifascista.