O PCP realizou terça-feira, dia 17 de julho, uma audição pública dedicada ao queijo Serra da Estrela na biblioteca municipal de Gouveia. Participaram nesta audição Miguel Viegas, deputado do PCP no Parlamento Europeu e João Frazão membro da Comissão Política do PCP. Presente também na mesa, esteve Maria João Lima, professora e investigadora da Escola Agrária de Viseu e responsável por vários projetos ligados a esta temática.
O Queijo da Serra da Estrela é um produto com largas tradições e reconhecido de forma unânime pela sua qualidade. Contudo, este porta-estandarte da nossa gastronomia tem sofrido com décadas de políticas de direita que promoveram a desertificação do interior e cujas consequências ficaram bem à vista com a dimensão dramática dos incêndios que assolaram o país no verão do ano passado.
A necessidade de incrementar a produção leiteira de ovelhas Bordaleira da Serra da Estrela ou Churra Mondegueira a par com os incentivos às estruturas associativas por forma a garantir a promoção e escoamento da produção foram elementos várias vezes referidos pela plateia ao longo das duas horas que durou o debate.
Mas como ficou bem sublinhado, para atrair produtores, designadamente jovens para esta produção, numa região em que a produção de queijo tem uma importância central, é indispensável criar condições que permitam garantir o escoamento do seu produto a preços compensadores da produção. Precisamos de uma Politica Agrícola Comum que privilegie a pequena e média exploração em vez que favorecer a grande indústria do agronegócio.
Por outro lado, importa igualmente uma política de valorização da produção nacional que assegure a substituição de leite importado por leite da região a preços remuneradores.
Esta audição pública confirma as enormes potencialidades da região e do país, que não está condenado ao declínio e à dependência. Nas palavras de Miguel Viegas, o queijo Serra da Estrela pode ser o elemento agregador de uma estratégia de desenvolvimento regional que articule medidas de revitalização do mundo rural, seja ao nível da produção primária, seja ao nível da valorização e modernização das queijarias, com outras estratégias conexas ligadas ao turismo e à gastronomia. João Frazão sublinhou a necessidade de romper com orientações da União Europeia que se revelaram profundamente negativas para o nosso tecido produtivo. A necessidade de adequar a legislação e em particular os licenciamentos à realidade local representa outra evidência numa região que carece de investimento como de pão para a boca. Para inverter esta trajetória de declínio e desertificação do interior não bastam os incentivos fiscais dirigidos às empresas. Segundo João Frazão, este declínio só será vencido se houver criação de emprego, investimento público que arraste investimento privado e a reposição ou mesmo reforço dos serviços públicos que continuam a encerrar por todo o país, reforço das estruturas do Estado, designadamente do Ministério da Agricultura, retomando os serviços de extensão rural, e apoio à agricultura familiar.