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Segue-se um texto publicado originalmente no n.º 3 do "Escrito na Pedra", boletim da Célula do PCP no Parque e Museu do Côa.

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Francisco do Nascimento Gomes

Um lutador fozcoense que morreu como um comunista 

Poucos fozcoenses conhecem a história de Francisco do Nascimento Gomes. Nascido na freguesia de Sebadelhe, a 28 de Agosto de 1909, desloca-se para o Porto, onde se torna condutor na Companhia da Carris a 22 de Dezembro de 1931. Aí, tomando consciência da dura exploração que os trabalhadores e o povo portugueses sofriam às mãos da ditadura fascista, decide tornar-se militante do Partido Comunista Português. Após uma primeira prisão por “estar envolvido em ligações de carácter comunista”, em 31 de Julho de 1936, é preso novamente cerca de um ano após ser libertado, a 11 de Outubro de 1937, acusado de “estar envolvido em manejos comunistas” e de participar na distribuição do Avante! no Norte do País. 

Julgado em Agosto de 1938, é condenado a uma pena de 3 anos de degredo. A 1 de Abril de 1939 foi enviado da prisão de Caxias para o Campo de Concentração do Tarrafal.  

Inspirado pelos campos de concentração da Alemanha nazi-fascista, o fascismo em Portugal criou o “Campo da Morte Lenta” na ilha de Santiago, Cabo Verde, em 1936, com vista à liquidação física e psicológica dos seus opositores. Para aí foram enviados comunistas e outros antifascistas para morrer, de paludismo, de trabalhos forçados, de falta de alimentação, de assistência médica e de torturas, entre as quais os espancamentos e a tristemente célebre “frigideira”, um pequeno cubo de cimento, sem ventilação ou luz, exposto ao sol abrasador, sem condições de higiene, para onde eram enviados os presos de castigo, dormindo no chão, com uma dieta de pão e água. 

Os torcionários diziam então que “quem vem para o Tarrafal é para morrer”. E assim aconteceu a 32 outros antifascistas, entre os quais o comunista fozcoense Francisco Gomes, assassinados às mãos do fascismo. 

Na sequência de uma tentativa de fuga é espancado e encerrado na frigideira durante 60 dias, sendo-lhe negada alimentação. A partir daí inicia-se a degradação da sua saúde, que culmina na sua morte a 15 de Novembro de 1943. Os seus camaradas descreveram assim os seus últimos momentos: “ 

“Mais um camarada nosso vai morrer e as condições em que escrevemos fazem que, mesmo antes da sua morte, vo-la anunciemos. Neste momento (9 horas de 14 de Novembro) já há 48 horas que deixou praticamente de urinar - estará morto, portanto, em poucas horas. Já perdeu a lucidez, e o rim. (…) 

“Não tem salvação possível, apesar dos esforços empregados, com todos os medicamentos que temos. É um autêntico assassínio o que se passou aqui. (…) 

“Gomes morre como um comunista. Esteve lúcido bastante tempo e com a consciência perfeita de que ia morrer. Disse: "só tenho pena de ir morrer num momento destes em que a nossa hora vai chegar". Pouco antes de perder a lucidez, chamou um camarada a quem pediu que dissesse a todos os camaradas que ele ia morrer mas que morreria com coragem (…). É mais um dos nossos que morre e sabe morrer.” 

À data da sua morte, Francisco Gomes havia já concluído a pena a que fora condenado. Foi sepultado no cemitério do campo e os seus restos trasladados, juntamente com os outros antifascistas assassinados, para o memorial que homenageia os tarrafalistas no cemitério do Alto de S. João, em Lisboa. 

Uma entre muitas, a história da vida e da morte de Francisco Gomes, é um exemplo para os comunistas, mas também para os fozcoenses e para todos os portugueses. Lembrar a sua coragem será a melhor homenagem que podemos prestar à sua luta pela democracia, que haveria de chegar mais de 30 anos após a sua morte, na madrugada de 25 de Abril de 1974. Passados 105 anos do seu nascimento e 71 anos da sua morte é chegado o tempo dos fozcoenses conhecerem a história deste seu herói. É tempo de ele ser homenageado condignamente na terra que o viu nascer. A Organização Regional do PCP realizou a 5 de Abril de 2007 uma sessão evocativa, onde estiveram presentes dois dos seus netos. Na altura, o então Presidente da Câmara prometeu uma homenagem, incluindo a inscrição do seu nome numa rua de Foz Côa. Entretanto, a Comissão Concelhia fez chegar à Camara Municipal a proposta de atribuição do nome de Francisco Gomes a uma rua da sede do concelho, uma excelente forma de comemorar a Revolução. Em resposta, o Presidente da Câmara remeteu essa decisão para a aprovação do Regulamento Municipal de toponímia, que se encontra ainda em elaboração…  Caso esse assunto fique entretanto esquecido, cá estaremos para renovar a proposta. É tempo de se fazer esta justa homenagem à memória de Francisco Nascimento Gomes.